Versos fugazes de Ascânio Lopes

Serão do menino pobre – Ascânio Lopes

 

Na sala pobre da casa da roça

papai lia os jornais atrasados.

Mamãe cerzia minhas meias rasgadas.

A luz frouxa do lampião iluminava a mesa

e deixava nas paredes um bordado de sombras.

Eu ficava a ler um livro de histórias impossíveis

― a vista estava cansada, a luz era fraca, 

e passava de leve a mão pelos meus cabelos,

numa carícia muda e silenciosa.

 

A produção literária de Ascânio Lopes Quatorzevoltas foi efêmera, mas impactou o movimento modernista mineiro. Ascânio Lopes nasceu em 11 de maio de 1906 em Ubá e, vítima de tuberculose, faleceu com apenas 23 anos em Cataguases onde foi criado. 

Durante os anos que viveu em Belo Horizonte, ele teve contato com grandes nomes da cena artística mineira como Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Emílio Moura e João Alphonsus. Foi também nesse momento que Ascânio se aproximou do “Movimento Verde”: como ficou conhecido o movimento modernista em Minas Gerais composto por este grupo de jovens escritores na década de 1920. 

Ascânio Lopes chegou a ingressar na Faculdade de Direito na capital mas logo sua enfermidade lhe obrigou a retornar à Cataguases e lá, contribuiu para a fundação da revista Verde que foi editada entre 1927 e 1929 com a participação de diversos nomes modernistas como Rosário Fusco, Aníbal Machado, Mário de Andrade, José Américo de Almeida e Guilhermino César.

A escrita de Ascânio Lopes tem muitas influências de seus contemporâneos e é nítido seu potencial para ser um escritor fenomenal. Muitas dessas escritas foram colocadas em seu único livro publicado “Poemas cronológicos” em 1928. Além disso, o autor se correspondia com frequência com Mário de Andrade ― prática muito comum entre os amigos e colegas de ofício de Mário. 

A perda de Lopes deixou uma lacuna preenchida com saudades e homenagens vindas de suas amizades. A revista Verde, por exemplo, fez um número com honrarias antes de encerrar suas atividades. Outros escreveram suas dores e lembranças, entre eles, o próprio Mário de Andrade e o itabirano, Carlos Drummond de Andrade. Ascânio Lopes, de certa forma, imaginou seu post-mortem em versos já que disse: “Meus amigos dirão palavras da amizade./ Meus inimigos dirão as palavras do perdão. / E os indiferentes continuarão indiferentes. / E ela que distante reza baixo por mim, / ela que dirá? / Sua boca dirá nada, mas seus olhos tudo…”

 

REFERÊNCIAS

BRANCO, Joaquim. Ascânio, o poeta da Verde. Cataguases (MG): [s. n.], 1998. 48 p.

DUARTE, Constância Lima. (Org.). Ascânio Lopes. In: Dicionário biobibliográfico de escritores mineiros. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p. 79-80.

 

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