Um convite inusitado no Triângulo Mineiro

Fundada em meados do século XIX, a partir de uma expedição de bandeirantes, a cidade de Araguari, no auge dos anos de 1930, era uma das poucas a alcançar 40 mil habitantes no estado e, diante dos ideais de modernização e urbanização, os magistrados políticos nomeados por lei estadual, como o prefeito Mário da Silva Pereira, implantaram medidas comprometidas com o progresso e com o desenvolvimento social através da construção de escolas tanto na cidade quanto na zona rural. 

Correm boatos, entretanto, de um acontecimento um tanto quanto excêntrico para os dias atuais: um duelo. Como coisa que a gente só vê nas telas de cinema, ou lê em algum romance oitocentista, em Araguari… também só ouvimos falar. E assim nos conta Abdala Mameri sobre este causo araguarino:

No início da década de 1930, o prefeito, Mário da Silva Pereira, teve alguns desentendimentos com o promotor de justiça da comarca, Altino Cabral Botelho Benjamin. O promotor de justiça atacava, frequentemente, o prefeito através de seus pareceres no fórum enquanto Mário Pereira atuava como procurador de seus clientes entre 1926 e 1928. Diziam que o senhor Altino invejava a inteligência do primeiro e que, por isso, em um dia tomado pela raiva, convidou seu rival para um duelo.

 

Estavam indicados local e nomes de testemunhas, que eram Dr. José Jeová Santos e Miguel Camarano. Seria o Juiz Dr. Celso Santos. A repercussão foi ampla, chegando o fato a ser noticiado pela imprensa de Belo Horizonte” (Mameri, 1988, p. 92)

 

O senhor Mário achou o convite “ridículo e fantasioso” e respondeu que “não se usavam mais duelos com armas, sim com palavras, conforme entendiam pessoas civilizadas” e, assim, negou o convite. Sua parcimônia lhe rendeu a vida, isso porque descobriu mais tarde que o duelo, na verdade, era uma arapuca montada para assassiná-lo. 

O que se conta pelo filho de Mário é que a armação era ou para matar seu pai ou para denunciá-lo às autoridades; coisa que lhe traria desmoralização perante toda comunidade atendida por ele no Triângulo Mineiro. O episódio era narrado em eventos familiares com muito bom humor por Mário, como relatou o filho a Mameri. Já o promotor de Justiça Altino Cabral, tendo queda em sua reputação, se mudou para o sul do estado e lá, acabou sendo morto depois de desrespeitar uma ordem da Justiça devido uma denúncia de maus tratos a uma criança que ele cuidava. 

Agosto marca o aniversário da cidade de Araguari; são mais de cem anos de histórias de um povo trabalhador cercado pelas belezas do município que conta com cachoeiras e muitos pontos culturais, além, é claro de histórias carregadas de ângulos peculiares, assim como a desse convite inusitado a Mario Pereira.

 

REFERÊNCIAS 

MAMERI, Abdala. Pelos caminhos da história: pessoas, coisas e fatos de Araguari. Araguari: ARTGRAF, 1988. 124 p.

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