O tornar-se de Fernando Sabino

“S. Paulo, 10-01-42

Fernando Tavares Sabino

Se você quiser continuar sendo escritor, antes de mais nada tem que encurtar o nome. Tavares Sabino, Fernando Tavares, Fernando Sabino. O que é impossível é Fernando Tavares Sabino. Me desculpe esta sinceridade e entremos pelas outras.”

Este foi o primeiro conselho dado a Fernando Sabino por ninguém mais, ninguém menos que Mário de Andrade em uma carta enviada a Sabino como resposta ao jovem escritor que mandara sua primeira publicação “Os grilos não cantam mais” para Andrade. 

Fernando Sabino nasceu em 12 de outubro de 1923 em Belo Horizonte e ainda adolescente já contribuía com jornais através de alguns escritos. Aos 17 anos reuniu contos escritos desde os seus 14 anos e conseguiu publicar sua obra com o dinheiro da venda de um terreno de seu pai, repartido entre os filhos. Dos mil exemplares feitos, um foi endereçado a Mário de Andrade, que respondeu maravilhado e dizendo “saio do seu livro com a convicção de que você é um escritor, é um artista”. Além de elogios, Mário também concedeu alguns conselhos valiosos que ajudaram o novo amigo a seguir no caminho literário. Muitos anos mais tarde, já com a carreira consolidada, “Os grilos não cantam mais” recebeu nova edição, uma terceira para dar mais exatidão, e nesta, Sabino assinou ao seu amigo: 

“Oh tempo, Hélio! Nossa matéria! Anos já se foram que ficamos em Brumadinho. No tempo em que os grilos cantavam. Com o coração do seu amigo 

Fernando 

5.10.84”

“Hélio”, Hélio Pellegrino, médico psicanalista que se envolveu profundamente em enfrentamentos políticos como a luta contra o Estado Novo de Vargas em 1945, mais tarde participou da direção do Partido dos Trabalhadores e lutou contra a Ditadura Militar. A amizade entre Hélio e Fernando  era metade do quarteto formado juntamente com Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos. Mário de Andrade chegou a dizer a Sabino, em 1944, que essa amizade com os outros três grandes escritores e expoentes da literatura mineira, era o que o salvaria. Sabino concordou dizendo, em outra ocasião, que:

“Posso afirmar que, se não tivéssemos conseguido fazer mais nada na vida, essa amizade de tantos anos, com convívio diário, foi o melhor que podíamos esperar deste mundo. Ela nos faz ter eternamente 20 anos e sinto que me permitirá morrer em paz.”

Sabino faleceu em 2004, muitos anos depois de seus grandes amigos. A paz que disse encontrar devido à amizade, é a paz que pousa sobre as memórias que ele nos trouxe através apenas de uma dedicatória comum em um livro comum com uma história mais que especial.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNARDO, André. Fernando Sabino, 100 anos: o escritor que nasceu homem e morreu menino. Itaú Cultural, 2023. Disponível em: https://www.itaucultural.org.br/secoes/noticias/fernando-sabino-a-historia-do-escritor-que-nasceu-homem-e-morreu-menino Acesso em: 24 maio 2024.

FRAZÃO, Dilva. Fernando Sabino: escritor brasileiro. EBiografia, 2021. Disponível: https://www.ebiografia.com/fernando_sabino/ Acesso em 24 maio 2024.

PEIXOTO, Mariana. A arte do encontro de Fernando, Paulo, Otto e Hélio. Belo Horizonte: Estado de Minas, 2023. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/pensar/2023/10/12/interna_pensar,1575444/a-arte-do-encontro-de-fernando-paulo-otto-e-helio.shtml Acesso em: 24 maio 2024.

SABINO, Fernando. Os grilos não cantam mais. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1984. 156 p.

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