Propagando a poesia de Celina Ferreira

Humildade – Celina Ferreira

 

Já não aceito a humilhação mesquinha

de um homem por um homem, não por Deus.

Do servo pelo dono,

do empregado

em busca do argumento mais patético.

 

Do possuidor à posse temporal.

Daquele que se curva pelo pão

ou pela glória. Tudo que alimenta

também corrompe quando é servidão.

 

Prefiro o gesto simples, comovente

de quem se curva para ver a flor

ou dentro de si mesmo se ajoelha

e diz – Meu Deus, meu grande Deus, pequei. 

 

A poesia de Celina Ferreira é pouco conhecida atualmente, mas a escritora mineira foi bastante celebrada no meio literário das décadas de 1950 e 1960 por autores como Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Carlos Drummond. Sua história e sua escrita cativam os olhos de quem a conhece.

Celina Ferreira nasceu em 1928 na cidade de Cataguases e foi professora ainda na adolescência. Mais tarde, cursou Assistência Social em Belo Horizonte e trabalhou no SESC. Depois de se casar aos 27 anos, Celina foi morar no Rio de Janeiro, onde teve de criar seus filhos sozinha devido ao falecimento de seu marido. No Rio, ela trabalhou como redatora na Rádio MEC, no Jornal do Brasil e no programa Olho por Olho na TV Tupis. Celina se dedicou tanto à literatura para adultos quanto para crianças e escreveu muitos poemas que foram reunidos em “Poesia de ninguém” (1954); “Hoje poemas”(1954); “Nave incorpórea” (1955); “Invenção do mundo” (1957); “Espelho convexo” (1973); “O papagaio Gaio” (1998); entre outros. 

Em “Poesia de Ninguém”, Celina traz poemas escritos por alguém que enxergava o mundo através da simplicidade. Veja o poema acima e note a tocante narrativa de quem desabafa em sua própria solitude a fim de mostrar a humildade não diante das coisas materiais e sim, diante da imensidão do mundo. 

Celina passou seus últimos anos em uma casa de saúde em Teresópolis- RJ, e faleceu em 2012. Sua filha, Márcia mantém um blog dedicado à mãe contendo fotografias e seus poemas escritos por toda sua vida, cercada de muito afeto e muito amor. Que mais pessoas conheçam a magnanimidade de Celina Ferreira e seus escritos que deveriam compor o cânone da Literatura Nacional. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUARTE, Constância Lima. (Org.). Celina Ferreira. In: Dicionário biobibliográfico de escritores mineiros. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 374 p.

FERREIRA, Celina. Poesia de ninguém. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1954. 120 p.

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