Poemas através dos séculos

Nós somos felizes demais,

Daí o nosso medo da vida,

Daí as nossas perguntas ao futuro

O nosso terror de coisas que não acontecem,

O nosso gosto infantil pelas hipóteses,

O nosso anseio pueril pela afirmação do nosso amor.” (p.79)

Esta estrofe faz parte do poema “Felizes demais” de Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça, a primeira mulher a integrar o Tribunal Superior Eleitoral e participar da apuração das eleições de 1934. Nascida em 1896, no Rio de Janeiro, Anna Amélia foi poetisa, escritora, tradutora e colaboradora de jornais, tendo ainda atuado na área da educação e na política, ao integrar o XII Congresso Internacional de Mulheres em Istambul em 1935 e representar o Brasil na Comissão Internacional das Mulheres em 1942.

Uma de suas obras é o livro “Poemas”, publicado em 1950, reunindo entre “Felizes demais”, outros escritos como “A terra e o homem” e “ Caminho do Rio Doce”. É neste livro que Anna Amélia deixou a seguinte dedicatória: “Para Maria Luiza e Arquimedes, com a sincera amizade e a constante admiração”. Não é possível saber quem são, ou foram, essas pessoas, mas o que chama atenção nesta edição é o poema escrito à mão por alguém que assinou como Diana Marchelle em 15 de novembro de 2006. Com grafia de quem não tem mais que 15 primaveras, ela escreveu:

Quando te beijo

O mundo para de girar

É um grande desejo

Com você, preciso estar

É amor e prazer

Como é bom te ter

Mais com o tempo

o amor se desgasta

A paixão acaba

O coração volta a ficar vazio

E nem todas as águas do oceano

pode encher um coração

É melhor não amar

Para não sofrer

com uma grande decepção

Estaria Diana escrevendo depois de ler e se inspirar nos poemas da grande mulher que foi Anna Amélia? As teias literárias fizeram o movimento de cruzar a escrita de uma mulher da década de 1950 com a vida de outra menina em outro século, quase sessenta anos mais tarde. Já não importa os meios que possibilitaram este encontro. A curiosidade aguça em procurar conhecer Diana e se ela seguiu nos rumos da Literatura. Tudo que importa, enfim, são as conexões que este mundo literário pode criar. 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MENDONÇA, Anna Amélia de Queiroz Carneiro de. Poemas. Rio de Janeiro: Livraria-Editôra da Casa do Estudante do Brasil, 1951. 147 p.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Anna Amélia de Mendonça lutou junto de outras mulheres pelo direito ao voto feminino no Brasil. Portal FGV. 2024. Disponível em: https://portal.fgv.br/noticias/anna-amelia-mendonca-lutou-junto-outras-mulheres-pelo-direito-ao-voto-feminino-brasil Acesso em: 03 jun 2024.

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