O chamado de Elvira Komel às mulheres mineiras

O Brasil do final da década de 1920 se via insatisfeito com o governo do Presidente Washington Luís e ainda abalado com as consequências econômicas da Crise de 1929. Para completar, a indicação de Júlio Prestes para a presidência representou o fim da conhecida Política do Café com Leite que há anos vinha sendo realizada pelas elites de São Paulo e Minas Gerais. Logo, as províncias de Minas, Paraíba e Rio Grande do Sul, que queriam Getúlio Vargas como presidente, se uniram como a “Aliança Liberal” contra as ações governamentais de Washington Luís e contra o resultado das eleições de março de 1930 que elegeram o paulista Júlio Prestes. Sob a alegação de fraude eleitoral, o movimento golpista que ficou conhecido sob a alcunha de Revolução de 1930 conseguiu depor o presidente e impedir a posse de Prestes. No cenário mineiro, uma mulher em especial se destaca:  Elvira Komel. 

Considerada como a advogada sufragista engajada em reivindicações políticas, Elvira Komel nasceu em Barão de Cocais em 1906, cursou Direito em Belo Horizonte e em 1930 encabeçou o Batalhão Feminino João Pessoa, destinado à enfrentar as injustiças do governo sendo criado para auxiliar o Batalhão Masculino de mesmo nome. A chamada revolução estourou em 3 de outubro daquele ano e apenas dois dias depois, Elvira publicava no jornal um chamado de associação feminina ao Batalhão dizendo: 

“O momento é, tão só, de attitudes decisivas e acções efficientes, pela victória completa das suas grandes finalidades. A mulher, não obstante frágil fisicamente – pode, cultivando os princípios superiores da dignidade humana, cooperar, com vantagem, para o triumpho final dos levantados preceitos democráticos. […] Assim sendo, a mulher mineira não deve arrecear em conduzir os seus filhos e maridos, irmãos e noivos, para a linha de combate, como também emprestar todo apoio moral e material à causa commum” (Gama, 1987, p. 13).

Veja só. Este chamado aliado a outras estratégias de “alistamento” conseguiu reunir cerca de oito mil mulheres para o Batalhão. Oito mil mulheres que atenderam à convocação de Komel para serem mais do que os padrões sociais da época permitiam, mais que uma simples dona de casa! Embora os papeis femininos dentro do Batalhão e dentro do Movimento Revolucionário seguissem a hierarquia do exército, legando às mulheres as posições de cuidado, para elas, era mais significante o fato de que representavam a parcela certa e que estavam “salvando o Brasil”. 

As práticas de Elvira foram, absolutamente, inovadoras, não se pode negar. O seu Batalhão enfrentou inclusive o machismo de homens que articularam o trocadilho “Kom mel” para o batalhão feminino e “sem mel” para o masculino. Após a “vitória” da Revolução e início do Governo Provisório de Vargas, Elvira foi presidente do I Congresso Feminino Mineiro, destacando, acima de tudo, a defesa pelo voto feminino e as urgentes mudanças constitucionais. Em 1932, Komel  chegou a ver o Código Eleitoral ser mudado, mas em julho do mesmo ano, faleceu repentinamente, como alega sua família, devido a um aneurisma cerebral. Ainda que tenha sido levada prematuramente, deixou memórias eternas na política de Minas Gerais. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Alzira Alves de. Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, [200-?]. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/REVOLU%C3%87%C3%83O%20DE%201930.pdf Acesso em: 22 maio 2024. 

GAMA, Lélia Vidal Gomes da. Elvira Komel: uma estrela riscou o céu. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987. 114 p

WANDERLEY, Andrea C.T (Ed.). Elvira Komel: Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!. [S.l:s.n], 2023. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?tag=elvira-komel Acesso em: 22 maio 2024.

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