Murilo Rubião e Fernando Ferreira de Loanda

“Amanhã o dia poderá nascer claro, o sol brilhando como nunca brilhou. Nessa hora os homens compreenderão que, mesmo à margem da vida, ainda vivo, porque a minha existência se transmudou em cores e o branco já se aproxima da terra para exclusiva ternura dos meus olhos.” (p.19)

Assim Murilo Rubião termina seu conto “O pirotécnico Zacarias”, conto que, ao ser colocado como livro, junto a outros escritos, em 1974, levou o autor a consagrado reconhecimento e sucesso de vendas. Murilo Eugênio Rubião nasceu em 01 de junho de 1916 onde é hoje Carmo de Minas, foi advogado, funcionário público, jornalista e contista considerado o precursor do realismo fantástico na América Latina. O autor começou sua carreira ainda em 1939, publicando em periódicos de Belo Horizonte – ato facilitado em razão do seu trabalho em jornais como o Folha de Minas. 

Em “O pirotécnico Zacarias”, Rubião criou o personagem de Zacarias que é quem conta, em primeira pessoa, sua vida depois de morrer, mas não estar morto. Isso porque o suposto morto continua fazendo todas as atividades que fazia antes de morrer. Zacarias passa a relatar como sua vida depois de morrer havia ganhado uma nova perspectiva, com mais cores e com mais sensações que anteriormente ele preferia ignorar. 

Este conto foi escrito originalmente em 1943 e publicado na revista “O Cruzeiro”. Ao longo dos anos foi publicado em outras obras de Rubião como no “Ex-mágico”. Somente em 1974 é que uma edição que carrega o nome do conto foi publicada. Em uma dessas edições, Rubião assinou:

 

 “Para Fernando Ferreira de Loanda, com o abraço do 

Murilo Rubião / B.H. novembro 74”. 

 

Fernando Ferreira de Loanda foi um poeta e editor de poetas da chamada “geração de 45”. Fernando nasceu em Angola em 1924 e a partir da década de 1940, ele já trabalhava em alguns jornais como o “A manhã” e foi um dos criadores da revista “Orfeu”. Pela “Orfeu”, ele editou “Panorama da poesia brasileira” (1951), “Antologia da nova poesia brasileira” (1965) e “Antologia da moderna poesia brasileira” (1967). Ele ainda publicou escritos próprios como “Equinócio” (1953), “Do amor e do mar” (1964), “Kuala Lumpur” (1991) e “Signo da serpente” (2000).

A partir de uma dedicatória, aparentemente comum – as obras que contém dedicatória de Rubião no ICAM possuem dedicatórias muito similares, sendo apenas encaminhadas a pessoas diferentes -, Rubião possibilitou que víssemos a respeito desse grande poeta e editor que nem sempre vem sendo lembrado como alguém importante para a geração 45. Retomando a história de Zacarias, será que para viver na lembrança, sempre é preciso morrer? De qualquer maneira… “Amanhã o dia poderá nascer claro” e “mesmo à margem da vida” Fernando de Loanda e Murilo Rubião  ainda vivem. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RUBIÃO, Murilo. O pirotécnico Zacarias. São Paulo: Ática, 1974. 62 p.

RUBIÃO, Sílvia (coord.). Murilo Rubião: vida: perfil biográfico. Belo Horizonte: [s.n., 20-?]. Disponível em: https://murilorubiao.com.br/index.php/vida-biografia Acesso em: 12 junho 2024.

SIQUEIRA, J. S. Fernando Ferreira de Loanda, poeta da geração de 45. Revista da Anpoll, [S. l.], v. 54, n. 1, p. e 1821, 2023. Disponível em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/1821.  Acesso em: 12 jun. 2024.

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