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Marcas de leitura em Buena-Dicha

Os mundos que habitam uma biblioteca conseguem ser incrivelmente peculiares inclusive nos seus mínimos detalhes. Se você tem o hábito de frequentar sebos e bibliotecas você pode ter se deparado com as dedicatórias e anotações desde as mais lindas, apaixonadas até as mais formais. Contudo, também são inesquecíveis as dedicatórias estranhas, engraçadas e críticas. É este o caso que carrega um dos exemplares de “Buena-Dicha”, um livro de crônicas autobiográficas de Jair Silva, publicado na década de 1930 que tem a seguinte anotação: 

“Que livro de pouco proveito. Não vale nada! Livro imoral como o autor! Leia e depois diga se tenho ou não razão!”

Quem escreveu essa nota não deixou seu nome e também não sabemos quem foi o antigo dono do livro antes dele vir parar aqui no ICAM. É isso que o torna ainda mais interessante porque a curiosidade em torno da obra aumenta exponencialmente, especialmente, porque a pessoa a quem a nota foi endereçada chega a respondê-la, logo abaixo, com a escrita apressada, a lápis, uma simples palavra: “tem”. 

As duas pessoas leram “Buena-Dicha”, deixaram suas impressões e o melhor: não explicaram as razões que os levaram a pensar assim. O autor, Jair Silva, era um cronista muito famoso e respeitado na época. Em jornais do período, seu nome aparece seguido de grande estima: “Era o cronista que a população lia, era o autor que todos desejavam conhecer, era aquele que se citava: «o Jair disse que…»” (Gato Felix, 1944). O livro é colocado como inspiração para nomes como o de Rubem Braga que, segundo Ana Karla Dubiela, escreveu “O conde e o passarinho” depois de ter contato com as crônicas do mineiro. 

Tudo isso se confirma na mesma edição em que as notas anteriormente aqui citadas são postas, pois, na folha de rosto desta edição, em uma terceira caligrafia, podemos ler o seguinte: “Simplesmente formidável…” 

Em outras palavras, as impressões de leitura marcam um livro de forma sublime e denota igualmente como a recepção de uma obra pode ser positiva para algumas pessoas enquanto para outras resulta em críticas negativas que ofendem até a autoria. 

Buena-Dicha é, como disse acima, um livro composto por eventos da vida de Jair Silva, e nele, são apresentados momentos em que Jair muda de emprego, observações cotidianas sobre sua cidade, Paraopeba, e suas experiências rotineiras como um escritor para jornais e também advogado. Você já leu esse livro? Se não leu, você tem a oportunidade  de fazê-lo agora pois a obra está disponível para acesso remoto. Entre em contato conosco para receber mais informações. Siga nossas redes sociais e comente o que achou dessas marcas de leitura eternizadas na literatura…

 

REFERÊNCIAS

DUBIELA, Ana Karla. As cidades: de Rubem Braga e Walter Benjamin: Flanando entre Rio, Cachoeiro e Paris. Fortaleza : Lumiar, 2017. 285 p. 

FELIX, Gato. Murilo e Jair. Gazeta de Paraopeba. Paraopeba. Ano 33, nº 1816, 1944. p. 4.  Disponível em: https://hemeroteca-pdf.bn.gov.br/830232/per830232_1944_01816.pdf Acesso em: 11 dez de 2024.

SILVA, Jair. Buena-dicha. Bello Horizonte: Imprensa Oficial, 1934. 292 p.

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