O mês de Agosto dispõe atenção à Primeira Infância; este momento tão especial na construção da identidade dos sujeitos e sujeitas que deve ser afetuoso e acolhedor às crianças. Muitas vezes, temos em nossos corações, as memórias infantis guardadas com muito carinho e, em algumas ocasiões, essas lembranças transbordam pela ponta da caneta se transformando em prosas e versos, ou mesmo contos. Foi nessa forma de contos que Zulmira Breiner imaginou e representou os “Dias da Infância”.
Em “Dias da infância”, Zulmira Breiner escreve contos da vida de crianças em um tempo muito antigo, que acontecem “na primeira cidade de Minas” – Mariana – sua cidade natal. No livro, saltam histórias intrigantes como a “O fantasma da babá”, em que as crianças sentem medo de um suposto fantasma e são incentivadas pelos adultos a rezar para que nada aconteça, e “Festas escolares” em que a autora demonstra como uma apresentação para os pais de alunos pode ser bastante inquietante. Neste conto, o teatrinho da escola se torna o objeto protagonista representando como cada criança pode ser diferente e se destacar de uma forma inusitada, trazendo atenção até para a família:
“No último festival, quando a Naná cantou “A melindrosa”, com um vestido de cetim lilás, fazendo gestos, dançando com muita graça e levantando ligeiramente a saia para mostrar que “A saia de baixo era de seda rara”, as outras famílias se acharam na obrigação de caprichar. Mamãe chegou até a encomendar um vestido para Maria do Carmo, na Elizeta, uma alta modista de Belo Horizonte, tudo debaixo de grande sigilo” (p.57).
Mesmo com um vestido vindo da capital, a menina acabou não indo muito bem ao performar a canção francesa “Soleil d’aurore” e, ao final, a mãe acabou entendendo que seus filhos não “tinham vocação para o palco”.
Zulmira de Queiroz Breiner nasceu em Mariana e estudou no Colégio Providência das Irmãs da Caridade e, mais tarde, se tornou professora em Belo Horizonte. Trabalhou não apenas em Curvelo como também no Rio de Janeiro no Colégio Jacobina. Seu primeiro livro publicado foi “Estudos de linguagem”, uma adaptação de sua monografia de conclusão do curso de especialização realizado na “Escola de Aperfeiçoamento para professoras”. Breiner dedicou sua vida à escrita de obras didáticas como “Dramatizações escolares” e “Erros de todos nós” e também à editoração da revista “Era uma vez…”, uma revista infantil criada na década de 1940. A autora traduz em seus escritos a importância em valorizar a vivência da criança e respeitá-la em sua completude. A literatura auxilia a criança a entender o mundo, por isso, neste mês de agosto, voltado à apreciação da Primeira Infância, leia com e leia para uma criança!
REFERÊNCIAS
BREINER, Zulmira de Queiroz. Dias da infância: (contos). 2.ed. Rio de Janeiro: Electra, 1968. 134 p.