Lambe-lambes: fotógrafos historiadores

Você possivelmente já viu aquelas fotografias antigas em que seus familiares estão completamente posados e bem-arrumados olhando para a câmera que gerou uma foto em preto-branco em um papel cuja textura é um pouco mais grossa e quadriculada, certo? Ou mesmo alguma foto que foi tirada por um fotógrafo de você ou seus familiares em um espaço público como uma praça ou um parque, estou certa? 

O que você provavelmente não sabe é que esses fotógrafos de rua são chamados de “Lambe-lambe”. O nome é assim, meio estranho mesmo, e a origem é controversa. O que mais se fala é que durante o tempo em que os fotógrafos usavam negativo de vidro, eles precisavam lamber o dedo e testar o negativo para saber qual dos lados possuía a chamada gelatina para a emulsão da imagem, e dizem que fazer essa distinção a olho nu era impossível, então não restava outra opção a não ser a de lamber… 

O curioso é que todos os fotógrafos, incluindo os de estúdios, faziam a mesma prática, mas apenas os de rua tinham seus processos fotográficos visualizados pelas pessoas e por isso ficaram conhecidos como Lambe-lambe. Sendo assim, o nome nem é tanto por seus equipamentos e sim pela ocupação do espaço público. Embora hoje já não se use mais o negativo de vidro, todo fotógrafo de rua é um fotógrafo lambe-lambe. 

Em Belo Horizonte, a fotografia já era usada desde antes da construção da cidade porque a Comissão Construtora da Nova Capital havia criado um Gabinete Fotográfico que tirava fotos de todo o processo a fim de representar a modernidade proposta pela Comissão, fazendo uma espécie de “antes e depois”. Contudo, apenas a partir de 1920 foi que os fotógrafos lambe-lambe passaram a existir em BH e o principal local de atuação era o Parque Municipal Renné Gianetti. 

Através da história oral contada por outros fotógrafos aposentados ou atuantes no parque, foi possível conhecer um pouco a respeito desses populares que se estabeleceram a fim de fotografar a população – desde as classes mais baixas até as mais abastadas. “Os primeiros lambe-lambes presentes na cidade foram: Luiz Fernandes e Justo Requeijo, de origem espanhola, o sírio “João Burro”, cujo primeiro nome era Armando, e Salomão José de origem estrangeira assim como o norte-americano Joanin Coelho e o árabe Mohamed, mais conhecido pelo apelido “Cara de Gato”” (p. 31).

Mais tarde, essa primeira geração foi aumentada por uma nova geração de brasileiros e o ofício foi sendo passado e aprendido. A profissão muitas vezes não podia ser única para garantir o sustento e muitos lambe-lambes mantinham outras funções. Aos poucos, toda a cidade foi sendo tomada por esses “historiadores amadores” que, até hoje, registram a memória da cidade e, principalmente, do povo. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARROYO, Michele Abreu; SOUZA, Françoise Jean de Oliveira. (Orgs.). Fotógrafo Lambe-lambe: retratos do ofício em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Fundação Municipal de Cultura, 2011. 120 p.

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