Homenagem à Adélia Prado

Atávica

 

Minha mãe me dava o peito e eu escutava,

o ouvido colado à fonte dos seus suspiros:

‘Ó meu Deus, meu Jesus, misericórdia’.

Comia leite e culpa de estar alegre quando fico.

Se ficasse na roça ia ser carpideira, puxadeira de terço,

cantadeira, o que na vida é beleza sem esfuziamentos,

as tristezas maravilhosas.

Mas eu vim pra cidade fazer versos tão tristes

que dão gosto, meu Jesus misericórdia.

Por prazer da tristeza eu vivo alegre.

 

Adélia Luzia Prado nasceu em Divinópolis em 13 de dezembro de 1935 e ainda que já escrevesse desde seus 14 anos, só publicou “Bagagem” em 1976, quando estava com quase quarenta anos. A poesia acima compõe o seu primeiro livro em que traz a autora em estrofes translúcidas de sua alma. 

Primogênita entre oito irmãos, Adélia viveu sua infância em Divinópolis, tendo estudado no Grupo Padre Matias Lobato e o ginásio no Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração e o curso de Magistério na Escola Normal Mário Casassanta. Mais tarde, em 1973, a autora se formou em Filosofia em Divinópolis e enviou alguns de seus poemas para serem analisados por Affonso Romano de Sant’Anna, que os enviou a Carlos Drummond de Andrade. O grande poeta itabirano comentou de Adélia com enorme efusão e, tecendo elogios, recomendou a publicação do livro – que veio a ser “Bagagem”. 

Prado já publicou diversas obras desde então como “O coração disparado”; “Solte os cachorros”; “Cacos para um Vitral”; “Terra de Santa Cruz”; “Os componentes da banda”; “O homem da mão seca”; “Manuscritos de Felipa”; “Oráculos de maio”; “Prosa reunida”; entre outros. A escritora já foi agraciada com várias premiações como o Prêmio Jabuti (com O coração disparado) em 1978, o Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional (2010); Prêmio Clarice Lispector (2016); o concurso de Literatura do Governo de Minas Gerais (2017). Neste ano de 2024, a autora conquistou não apenas o Prêmio Machado de Assis como o Prêmio Camões – o maior reconhecimento literário da língua portuguesa. 

Sobre “Bagagem”, Adélia Prado conta:

“Os poemas praticamente irromperam, apareceram cargas e sobrecargas de poemas. Eu escrevia muito nesse período, e quando vi que o volume tinha uma unidade, que ele não era apenas uma coleção de poemas, pois tinha uma fala peculiar, dele próprio, entre outros títulos que me ocorreram, Bagagem era o que resumia, para mim, aquilo que não posso deixar ou esquecer em casa. A própria poesia.”

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUARTE, Constância Lima. (Org.). Adélia Prado. In: Dicionário biobibliográfico de escritores mineiros. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 374 p.

PRADO, Adélia. Bagagem. 20.ed. Rio de Janeiro ; São Paulo: Editora Record, 2004. 144 p.  

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