“Dependo de tudo e de todos, absurdamente.
Que ser frágil veio ao mundo!
Estou a desmoronar-me a cada instante.
Amparai, amigos, tanta indigência,
dai-lhe o abrigo do vosso afeto
na fria noite da solitude” (p. 31)
Essa estrofe compõe um dos poemas escritos por Cyro dos Anjos publicado em seu único livro de poesia “Poemas coronários” de 1964. O teor melancólico e carregado de desespero, advém dos acontecimentos do ano anterior em que Cyro se viu doente de 22 de agosto a 19 de setembro devido a uma enfermidade no coração. Durante aqueles aproximados trinta dias, o homem encarou a angústia do possível fim e o acalento de um recomeço. Aquela fora sua ressurreição.
Nascido em 5 de outubro de 1906, o montes-clarense se mudou para Belo Horizonte onde cursou Direito, mas como era um amanuense certificado, se dispôs a trabalhar em funções públicas e também para a imprensa. Foi assim que durante boas décadas de sua vida ele trabalhou como oficial do gabinete do secretário de Finanças, oficial do gabinete do governador, diretor da Imprensa Oficial, membro e presidente do Conselho Administrativo do Estado. Já em suas funções jornalísticas, ele atuou nos seguintes periódicos: Diário da Manhã; Diário da Tarde; Diário do Comércio; Diário de Minas; A Tribuna; e Estado de Minas. Além dessas ocupações, Cyro dos Anjos dedicou sua vida, igualmente, ao cargo de professor e, dessa forma, encarregou-se da cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade do México e, mais tarde, na Universidade de Lisboa. A partir de 1955, passou a trabalhar no Gabinete Civil da Presidência do Governo JK e foi professor na Universidade de Brasília, onde coordenou o Instituto de Letras.
Embora Cyro dos Anjos tenha sido um companheiro de grandes nomes da escrita como Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura e João Alphonsus, ele não publicou tanto, pois sua vida pública e social tomava o tempo da literatura.
“Além disso, escrever, para Cyro, era um ofício que exigia disciplina e apuro da técnica, já que o autor, longe de ser um predestinado, era encarado como trabalhador da palavra e um intelectual com responsabilidade pública. Daí a coerência tão zelosamente buscada, a obra enxuta, a valorização da competência profissional, a defesa da liberdade de criação” (Duarte, 2010, p. 125).
Cyro, no auge do seu perfeccionismo, mostra ao leitor tanto em seus “Poemas Coronários” quanto em seu livro mais famoso, “O amanuense Belmiro” como a Literatura permite o derramar de angústias e o preencher de esperanças.
REFERÊNCIAS
ANJOS, Cyro dos. Poemas coronários. 2.ed. São Paulo: Globo, 2009. 79 p.
DUARTE, Constância Lima. (Org.). Cyro dos Anjos. In: Dicionário biobibliográfico de escritores mineiros. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 374 p.