Crônicas ouro-pretanas

Não só a garotada, mas também moços e moças associavam ao Lourenço, “miavam” para ele. Morando, certa ocasião, numa pocilga situada no caminho que vai para a fábrica do Tombadouro, não havia madrugada em que ele não aparecesse à porta, de facão em punho, arrasando ferozmente os operários que passavam e buliam com ele.”

Lourenço “Mia-gato” é uma das crônicas que se passam em Ouro Preto escritas por Arthur de Brito Machado ainda em 1933 e que foi incluída no livro “Ouro Preto: crônicas: imagem, clichê, de Ouro Preto – Entrada da Ponte dos Suspiros”. O título bastante longo não é reflexo de seus contos que, de maneira breve, abrangem um grande número de temas e personagens da cidade do ouro da época. 

Em Lourenço Mia-gato, o autor conta sobre uma figura curiosa que, perto dos seus setenta anos, era visto por todos como alguém desequilibrado, que falava sozinho e não somente falava como também discutia e ameaçava. Sem se importar em estar rodeado de pessoas, Lourenço as evitava principalmente porque as pessoas geralmente o ofendiam. Ele foi um homem solitário até morrer aos 75 anos. 

Já em “O leitão da pobre”, Brito Machado conta sobre a vez que uma mulher que criava um leitão para vender, uma prática muito comum para aquele tempo para que os mais pobres conseguirem alguma fonte extra de renda. Certo dia, dois homens sorrateiramente roubaram esse leitão. A mulher ficou desolada pois já havia sido paga e, assim, precisava de outro leitão para repassar ao cliente. Para sua surpresa, dois jovens a vêem e perguntam o que havia de errado devido sua tristeza. Depois que a mulher conta tudo que lhe ocorreu, os jovens lhe dão uma boa quantia de dinheiro quase dobrada. 

Em outra história, “Um colega machucado”, o autor conta sobre as aventuras de jovens estudantes que viviam em uma república famosa de Ouro Preto, a “Dom Pedro II”. Eles decidiram roubar um porco e, passarem despercebidos, resolvem embrulhar o animal de forma que parece mais uma pessoa. Carregando-o pelas ruas estreitas da cidade, passam por um bar e, com a desculpa do colega machucado, pedem uma bebida e o dono do bar, que lhes dá um conhaque. Na noite seguinte, eles têm um belo jantar com os frutos de sua malandragem. 

Brito de Machado não parece se dispor a contar grandes epopeias e aventuras, na intenção de dar ao leitor alguma lição de moral ou algo do tipo. Suas narrativas são cotidianas, quase como alguém que observa a sociedade e escreve o que seus olhos notam e sua memória inscreve. 

 

REFERÊNCIAS

MACHADO, Arthur de Brito. Ouro Preto: (Chronicas). Imagem, clichê, de “Ouro Preto – Entrada da Ponte dos Suspiros”, na capa da brochura. Ouro Preto (MG): Livraria Mineira, 1933. 220 p. il. p&b ; 18,5 cm.

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