Chico Rei – o rei africano no Brasil

Você já ouviu falar no homem que era rei na região do Congo em África, foi escravizado no Brasil e se tornou rei por um dia em terras mineiras? Vem comigo conhecer um pouquinho sobre a lenda de Chico Rei!

O mito de Chico Rei conta que este rei africano foi vendido como escravo aos portugueses em meados do século XVIII. Aqui chegando – como ocorria durante o período colonial – teve seu nome ignorado e a Igreja Cristã o batizou como Francisco. Ele foi, então, encaminhado para a Mina da Encardideira, mina comprada por ele anos mais tarde. Dizem que Chico sempre foi muito protetor dos seus companheiros e sempre cuidou dos mais fracos, o que o levou a ser bastante respeitado. 

De acordo com a lenda, em um dia, Chico orientou seus iguais a trabalharem duro e deixarem o cabelo crescer e só lavá-los uma vez por semana em um único chafariz, chafariz este cuja água seria usada pelas mulheres parceiras naquela irmandade. Ao longo do tempo, o pó de ouro lavado do cabelo dos homens era recolhido pelas mulheres e, assim, conseguiram reunir o valor para a primeira alforria e seguiram trabalhando e com a prática até que todos os companheiros estivessem livres. 

Tempos depois, Chico Rei conseguiu comprar uma mina, que todos julgavam esgotada, mas que acabou revelando prodigiosa riqueza. Mandou então construir a Igreja de Santa Efigênia do Alto da Cruz, que está de pé até hoje, na cidade de Ouro Preto, antiga Vila Rica de Minas Gerais.

No dia em que a igreja ficou pronta, Chico Rei, usando coroa e manto vermelho, foi o primeiro a entrar, à frente de seu povo liberto, para agradecer à Santa Efigênia. E ali entoou um canto de sua longínqua terra natal” (Tanaka, 2010. p.25).

Essa história está ligada à história do Congado em Ouro Preto que remonta do início do século XVIII. Esse tipo de ajuda comunitária entre escravizados é conhecida como Irmandade e, em Vila Rica, teve sua primeira expressão em 1711. Embora o mito de Chico Rei tenha seus “furos” de datas, como por exemplo a construção da Igreja que, no livro de Béatrice Tanaka aponta para, aproximadamente, o ano de 1747, a historiografia indica que a Igreja de Santa Efigênia foi construída em 1739, tendo sido finalizada por volta de 1780. Contudo, não se deve descartar a importância do mito de Chico Rei principalmente para o fortalecimento das comemorações de reis e as festividades negras trazidas do continente africano assim como o incentivo às irmandades negras, como a do Rosário que também possui uma igreja em Ouro Preta em homenagem à Nossa Senhora do Rosário, santa negra, assim como Santa Efigênia, uma santa etíope. 

O rei africano em Vila Rica contribuiu para fortalecer a história negra que foi contada em sambas e é rememorada até hoje nas cantigas dos congados, enriquecendo cada dia mais, a cultura brasileira. 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, Amanda Melissa dos. O Grande Anganga Muquixe Chico Rei: a presença do mito negro no Reinado do Alto da Cruz e nas escolas de Ouro Preto/MG. 2019. 217 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2019. Disponível em: http://www.repositorio.ufop.br/jspui/handle/123456789/11740 Acesso em: 18 jun de 2024.

TANAKA, Béatrice. A história de Chico Rei: um rei africano no Brasil. São Paulo: Edições SM, 2010. 61 p.

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