“Para conservar o seu organismo sempre novo, com músculos fortes, use INHAMEOL, um produto consagrado em todo o país, por suas altas virtudes no fortalecimento geral do físico. É o melhor e o mais completo depurativo do sangue até hoje conhecido” (Alterosa, 1940, p. 25)
Se esse anúncio fosse veiculado nos dias de hoje, a frase “Inhameol é um medicamento, seu uso pode trazer riscos. Ao persistirem os sintomas, um médico deverá ser consultado” seria incluída em letras menores. O anúncio em questão foi publicado em 1940 no periódico “Alterosa”, famosa revista mineira que circulou até meados da década de 1960. Essas publicidades farmacêuticas atiçam a curiosidade e incentivam o empenho em descobrir mais sobre como os medicamentos foram tratados ao longo dos séculos.
Betânia Figueiredo contou um pouco sobre a história das farmácias e boticas nas Minas Gerais do século XIX em “Farmácia: ofício e história”. Segundo a autora, as boticas eram os estabelecimentos que obtinham certos privilégios da legislação vigente da época, já que podiam comercializar medicamentos e produtos incomuns às vendas locais. As boticas eram lojas típicas organizadas em três espaços: “a recepção separada por um balcão onde ficavam o boticário e seus ajudantes. Logo atrás do balcão, as estantes com os recipientes de medicamentos, e, em seguida, o espaço destinado à manipulação. À vista do cliente ficavam os diversos produtos que seriam utilizados na preparação dos medicamentos e muitas vezes o cliente/paciente observava o trabalho do farmacêutico” (Figueiredo, 2005, p. 67).
Além disso, as boticas tinham horário de funcionamento especial e o boticário tinha a obrigação, por lei, de atender a todos em qualquer horário de necessidade. Isso é, inclusive, colocado em receitas; anunciando que estavam abertos dia e noite e, ainda, com o endereço do boticário. O boticário ou o farmacêutico muitas vezes era visto como médico e o contrário também se fazia verdade. Todas essas funções curativas se misturavam na figura daquele que é capaz de ajudar a curar.
Essa cura através de medicamentos, emplastros, elixires, panegíricos, tônicos e tudo mais – feitos principalmente a partir de bases vegetais como frutas, flores e folhas – era rodeada de crenças. A mais forte delas era a de que quanto mais amargo ou quanto pior fosse o remédio, mais rápida seria a cura porque para se curar, era preciso sofrer. Havia um espectro moral e cristão em torno das doenças, pois acreditavam que o pecado levava ao adoecimento e, logo, era necessário um momento de purgatório para se alcançar a graça da melhora e ascensão da alma às benesses de uma saúde livre de pecados.
Essas imbricações entre a farmácia e a botica foram se fragilizando ao passo que a Farmácia recebia sua certificação científica e, assim, farmacêuticos se tornavam aqueles que possuíam o diploma. Isso ocorreu em Minas Gerais, primeiramente, em Ouro Preto, com a fundação da Faculdade de Farmácia em 1839. É então que as crendices para validação de um bom medicamento perderam espaço para a comprovação científica. É assim que ciência, história e conhecimento fazem com que a modernidade e a tradição andem juntas contribuindo para o bem de todos!
REFERÊNCIAS
ALTEROSA: a revista da família brasileira. Belo Horizonte: Alterosa, 1940.
FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves. As farmácias no século XIX em Minas Gerais. In: STARLING, Heloísa Maria Murgel; GERMANO, Lígia Beatriz de Paula; SCHMIDT, Paulo. (Orgs.). Farmácia: ofício & história . Belo Horizonte: Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, 2005. 149 p.