Augusto Riedel e a fotografia imperial de Minas Gerais

Ao se pensar em cidades históricas como Diamantina, por exemplo, é comum que a principal imagem resgatada por nossa memória seja a de casas em estilo colonial e, talvez, alguns se lembrem que esta é a cidade que abriga o romance famoso entre Chica da Silva e o contratante de diamantes, João Fernandes de Oliveira. Mas já parou para pensar na imagem? Ou como foram feitas essas imagens? Ou mesmo como elas chegaram até nós? 

Impulsivamente, podemos considerar que em algum momento, estudando em livros didáticos de História, passamos por alguma dessas fotos. Por outro lado, muitos desses espaços existem até hoje e é possível visitá-los presencialmente ou através das tecnologias atuais. Entretanto, durante o período colonial e imperial brasileiro, essas imagens eram produzidas de forma diferente assim como representavam práticas distantes dos hábitos vividos hoje (ainda bem). 

Durante o século XIX, era comum que fotógrafos estrangeiros viessem ao Brasil para explorar o país a partir da óptica do que é diferente. A elite, aliada à monarquia, via na fotografia uma maneira pomposa de exibir seus bens. Foi numa dessas viagens que um dos fotógrafos iniciantes à época, porém posteriormente muito renomado, conseguiu captar alguns aspectos da sociedade mineira. 

Augusto Riedel, nascido em 1836, tem a vida pouco conhecida, já que faltam fontes para atestar algo além de sua data de nascimento e o nome de seu pai Ludwig Riedel, um biólogo alemão importante na expedição científica coordenada pelo ministro da Rússia no início dos anos oitocentistas. Aqui no Brasil, Riedel acompanhou a “Viagem de Suas Altezas Reais o Duque de Saxe e seu Augusto Irmão Louis Philippe ao interior do Brasil”, como assim chamou seu único livro publicado, com 40 imagens. Aqui eles percorreram Minas Gerais, Alagoas e Bahia no entorno do Rio São Francisco.

Uma das fotografias, incluída no livro “Os fotógrafos do império” , chama a atenção. É uma foto em preto e branco – claro – de uma grande fazenda à frente de uma serra com bananeiras em Morro Velho (MG). A casa, imponente e cheia de janelas adornadas por plantas florais rasteiras, possui bancos na varanda e uma árvore altiva no canto direito. E, assim como se fosse um tipo de vegetação, todos os escravizados domésticos foram montados a postos: homens de um lado, mulheres do outro. Todos devidamente uniformizados, passivos, sem expressão. Diante deles, alguns homens, bem vestidos, com suas cartolas e sapatos brilhantes. A pele branca é destacada. Eles não faziam parte da paisagem. O curioso nessa foto é que nos é dito que é a mais famosa de Riedel, considerado um fotógrafo sensível e inspirado. Entender que a foto foi, com certeza, construída, amplia igualmente o entendimento de que aquelas pessoas, submissas à exploração imperial do ouro nas minas de Morro Velho, eram simplesmente… objetos, adornos comprados – também – para uma fotografia. 

 

REFERÊNCIAS

LAGO, Bia Fonseca Corrêa do; LAGO, Pedro Corrêa do. Augusto Riedel: 1836 – depois de 1877. In: Os fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Editora Capivara, 2005. 239 p.

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