As mulheres na Inconfidência Mineira: Hipólita Jacinta Teixeira

No ano de 1789 no processo que serviu para julgar os envolvidos na deflagrada Inconfidência Mineira, o Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes relatara aos inquiridores que na ocasião de maio daquele ano, escrevera uma carta cujo conteúdo expunha todos os planejamentos dos “sujeitos esquecidos dos seus mais religiosos deveres” para sublevar as ordens da Coroa Portuguesa. A entrega desta carta lhe beneficiaria diante da Coroa, mas colocaria sobre sua face, a máscara de traidor perante seus companheiros. O único empecilho para que isto ocorresse foi a coragem de sua esposa, Hipólita, que queimou todos os papeis, lhe convencendo a não denunciar a conjuração.

Hipólita Jacinta Teixeira de Melo nasceu no Arraial de Prados, Minas Gerais, em 1748. Filha de Clara Maria de Melo e de Pedro Teixeira de Carvalho, minerador e capitão-mor da Vila São-José, atual cidade de Tiradentes, ela cresceu em meio a muita riqueza e benesses. Em um livro infanto-juvenil escrito por Ronaldo Simões Coelho, ela aparece como uma mulher culta, interessada e curiosa que, aos poucos, foi se cativando pela “Liberdade” ao passo que se confrontava com a realidade desigual a sua volta. Ao se casar com o referido Francisco Antônio, os dois passaram a morar na Fazenda da Ponta do Morro e era lá que recebiam os amigos que, pouco a pouco, planejavam uma revolução libertária.

Ciente de todas as discussões acerca da Inconfidência, Hipólita foi inclusive reconhecida como participante ativa do levante, não apenas por ter queimado provas das confabulações como também por ter sido ela a mensageira que comunicou a prisão do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, no Rio de Janeiro e também por, nesta mesma carta, contar que Joaquim Silvério dos Reis era o grande traidor da revolução. Na carta, ela dizia:

“Dou-vos parte, com certeza, de que se acham presos, no Rio de Janeiro, Joaquim Silvério dos Reis e o alferes Tiradentes, para que vos sirva ou se ponham em cautela; e quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que viver com desonra.”

Com a prisão, degredo e apreensão de bens de seu marido, seus bens também deveriam ser “sequestrados” pela Coroa, mas através de uma manobra judiciária, ela acabou mantendo parte de sua riqueza ao colocar seu patrimônio no nome de sua sogra. Entretanto, seu cunhado acabou a denunciando ao recorrer à Justiça por sua herança. O processo foi bastante complicado e, embora Hipólita admitisse o feito, ela não foi condenada e conseguiu reaver boa parte dos bens.

Seu marido faleceu dois anos mais tarde, em Moçambique, seu destino do degredo. Hipólita faleceu em 1828, vítima de icterícia, em Prados. Ela se mostrou uma mulher de fibra e coragem, conhecedora das letras e dos ideais iluministas que guiavam as mentes inconfidentes. Ainda que tenha sido pouco lembrada ao longo dos séculos, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo foi, igualmente, uma mulher inconfidente.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADA, Lafayette de. (Coord.). Autos de devassa da Inconfidência Mineira. Edição fac-similar. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2016. v.2

AS MULHERES QUE ATUARAM COM TIRADENTES, MAS FORAM ESQUECIDAS PELA HISTÓRIA. In: A Gazeta, 2023. Disponível em: https://www.agazeta.com.br/todaselas/as-mulheres-que-atuaram-com-tiradentes-mas-foram-esquecidas-pela-historia-0423 Acesso em: 13 mai 2024.

COELHO, Ronaldo Simões. Hipólita: a mulher inconfidente. Belo Horizonte: Armazem de Ideias, 2000. 43 p.

REIS, Elton Belo. Hypólita Jacinta Teixeira de Mello. In: GeneaMinas. Disponível em: https://www.geneaminas.com.br/genealogia-mineira/restrita/enlace.asp?codenlace=1361841. Acesso em 13 mai 2024.

RODRIGUES, André Figueiredo. Hipólita, mulher inconfidente. In: Carta Capital, 2015. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/educacao/hipolita-mulher-inconfidente/ Acesso em 13 mai 2024.

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