Mineiro forte do Morro Velho
Mineiro forte do Morro Velho,
Cavas cantado, porque és feliz:
O ouro que arrancas da pedra dura
Corre nas veias do meu país.
Dizem que o ouro não traz ventura,
Que só provoca tristeza e luto,
Mas o teu ouro, mineiro é virgem,
Reluz, fulgura, vivo, impoluto.
Tu vais buscá-lo nas entranhas
Da nossa terra, com os dedos teus:
Todo o tesouro que alegre trazes,
Vem ainda quente das mãos de Deus.
Este é Djalma Andrade, o professor, escritor, poeta e jornalista nascido em Congonhas do Campos em 1892. O poema acima faz parte do livro “Poemas para as escolas”, escrito em 1962.
Andrade estudou Humanidades em Ouro Preto e depois foi para Belo Horizonte para estudar Medicina. Percebendo a falta de vocação, largou o curso e se transferiu para o Direito, se formando em 1915. Em seguida, Andrade se tornou professor de História Geral no Colégio Estadual de Minas Gerais. No que diz respeito à imprensa de Belo Horizonte, Djalma trabalhou em quase todos os jornais e revistas e, por diversas vezes, usou os pseudônimos Guilherme Tell ou Félix Arruda.
Sua escrita sempre foi satírica, bem humorada e, como disse Eduardo Frieiro, cínica. Durante o período do Estado Novo, da década de 1940, Djalma Andrade escreveu uma crônica a fim de apontar e denunciar a “corrupção e os abusos do governo e dos políticos, e , de forma bem-humorada e irônica, críticas os costumes e vilanias sociais, sendo, por isso, preso muitas vezes”. (Duarte, 2010, p. 133)
Sua personalidade excêntrica sempre foi destacada por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Sua poesia, apesar de ser construída no auge do movimento modernista, não se encaixa em nenhum estilo. Sua escrita tecia o caminho entre sua essência e seu temperamento único. Durante sua vida, Djalma publicou, ainda, “Ditosa Pátria”; “Vinha ressequida”; “Cartuchos de festim”; “Poemas de ontem e hoje”; “Versos escolhidos”; “Sátiras”; “Versos escolhidos e epigramas”; “Pátrias”, entre outros. Foi membro da Academia Mineira de Letras e da Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Djalma. Poemas para as escolas. Belo Horizonte: Santa Maria S. A., 1962. 42 p.
DUARTE, Constância Lima. (Org.). Djalma Andrade (Guilherme Tel – Felix Arruda) (1892-1975). In: Dicionário biobibliográfico de escritores mineiros. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 374 p.