A prova de que Guimarães Rosa viveu

Em 27 de junho de 1908, na cidade de Cordisburgo, nasceu o grande escritor João Guimarães Rosa, autor de contos, novelas e romances, foi também diplomata e médico. Aos 10 anos de idade, ele se mudou para Belo Horizonte onde, em 1930, se formou na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais.

Sua carreira literária tem início em 1929 quando publica o conto “O mistério de Highmore Hall” na revista O Cruzeiro. Mais tarde, em 1936, Rosa ganha o Prêmio Academia Brasileira de Letras por sua coletânea de versos “Magma”. Em 1938, se inscreve no concurso da Livraria José Olympio sob o pseudônimo de Viator e perde, tendo entre os jurados ninguém menos que Graciliano Ramos. O autor de “Vidas Secas” conta em uma divertida crônica o processo dos bastidores deste concurso e revela que por mais que tivesse tentado achar  desnecessária a obra proposta por Viator, ele apreciava as quase 500 páginas compostas de contos em que Rosa escreve em “palavras simples” que “dão impressão de vida numa nesga de catinga, num gesto de caboclo, numa conversa cheia de provérbios matutos”. Ramos vota contra “Viator” mas fica encucado para saber a quem pertencia aquele escrito que possuíam “defeitos que o agradam”. Somente alguns anos mais tarde é que os dois se conhecem e Ramos pode contar a Rosa o que tinha visto de defeitos no livro que em 1946 foi publicado: Sagarana. 

A edição de 1974 de Sagarana traz essa crônica de Ramos em suas páginas iniciais, revelando uma atmosfera amigável entre as cadeiras da literatura brasileira. Em Sagarana, Guimarães Rosa reúne contos de caráter regionalista e trata de temas como violência, e o conflito entre o bem e o mal. São nove contos: “O burrinho pedrês”, “A volta do marido pródigo”, “Sarapalha”, “Duelo”, “Minha gente”, “São Marcos”, “Corpo fechado”, “Conversa de bois” e “A hora e vez de Augusto Matraga”. Neste último, Rosa conta a história de como Nhô Augusto, sujeito determinado, inicialmente respeitado, traído pela esposa e com os nervos à flor da pele sobreviveu à morte, mudou seu destino e acabou por enfrentar seus instintos.

Com “Sagarana”, Guimarães Rosa conquistou espaço no cenário literário do país e nos anos seguintes ele publicou “Com o vaqueiro Mariano”, que compôs “Estas estórias” – livro póstumo de 1969; conto que o possibilitou entrar em contato com as vivências que ele traria em “Grande Sertão: Veredas”, romance publicado em 1956 e que é a sua obra mais famosa, utilizada em vestibulares e consagrada pela Academia, tendo sido premiada pelo Prêmio Machado de Assis, pelo Instituto Nacional do Livro, pelo Prêmio Carmen Dolores Barbosa (1956) e pelo Prêmio Paula Brito (1957).

Em  1963, Rosa foi eleito para se tornar um dos imortais da Academia Brasileira de Letras, mas acreditava que morreria se fosse receber o título. Sendo assim, ele adiou a posse o tanto que pôde e apenas em 16 de novembro de 1967 foi receber a honraria. Três dias depois ele faleceu em decorrência de um ataque cardíaco causado pela má manutenção de sua saúde. Em seu último discurso, na ABL, ele declarou: “A gente morre é pra provar que viveu”. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. João Guimarães Rosa: biografia. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/joao-guimaraes-rosa/biografia Acesso em: 10 jun 2024.

BERNARDO, André. ABL: 40 curiosidades sobre a instituição fundada por Machado de Assis há 125 anos. Rio de Janeiro: BBC NEws Brasil, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62224349#:~:text=Em%208%20de%20agosto%20de,%C3%A9%20para%20provar%20que%20viveu%22. Acesso em: 10 jun de 2024. 

ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1974.

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