Um padre e um bairro: conexões

É natural que a vida em uma cidade nos leve a refletir sobre as origens tanto da própria cidade quanto de um bairro. Foi assim que me notei fazendo inferências sobre as origens do bairro Padre Eustáquio: quem foi esse homem que deu nome a um dos bairros mais tradicionais de Belo Horizonte?

Padre Eustáquio van Lieshout, de nome Humberto, nasceu em 3 de novembro de 1890 no povoado de Aarle-Rixtel, nos Países Baixos e cresceu tendo uma infância humilde e, em 1905, foi chamado por um padre de sua comunidade a ingressar no sacerdócio. Em 1913, ele assumiu o noviciado e, assim, passou a se chamar Eustáquio. Os estudos de teologia terminaram em 1919 e pouco tempo depois, em razão de seus serviços religiosos prestados na Holanda, foi condecorado cavalheiro – coisa que ele tratou com modéstia e seguiu com suas funções como vigário. Logo ele teve notícias de que iria, juntamente com outros padres, para a América do Sul e antes, iriam à Espanha para aprender a língua, porém, os planos mudaram quando foram informados que deveriam cumprir uma missão no Brasil, em um local não definido.

Em 1925, Padre Eustáquio chegou em terras mineiras e, primeiramente, no sertão do estado. De lá, iniciou uma romaria que lhe proporcionou grande popularidade. Ele era descrito como sensível e humilde, além de lhe serem atribuídos alguns feitos ditos milagrosos. Uma multidão de beatos e doentes lhe seguiam buscando conforto, cura e conselhos. 

Apenas no começo da década de 1940 foi que o Padre chegara em Belo Horizonte e, na capital, recebeu primeiramente ordens de Dom Cabral para que não atendesse tantos fieis e nem que fosse às casas dos doentes, além de se manter discretamente em suas funções. Isso não funcionou, pois a cada dia, mais e mais pessoas iam até ele, naquele tempo, no bairro Carlos Prates, onde havia a igreja. O fluxo de pessoas fez com que houvesse distribuição de 50 senhas diárias até que Dom Cabral revogasse as instruções iniciais, afinal: 

“Como todos os santos dos tempos passados, padre Eustáquio não se importava com o que pensavam a respeito dele. Preocupava-se em não fazer maus juízos dos outros e a pensar em todas as pessoas de modo construtivo” (Andrade, 1990, p. 121-122)

Em 1943, o pedido de Padre Eustáquio para erguer um santuário foi aprovado e ele começou a pedir auxílio para a construção da atual Igreja Padre Eustáquio. Ele chegou a dizer que havia iniciado a construção da Igreja mas não a veria pronta. Na época, ninguém lhe deu ouvidos, visto sua saúde em perfeito estado. De fato, pouco tempo após o início das obras, Eustáquio contraiu febre maculosa e faleceu em 30 de agosto daquele ano. Em 1951, o prefeito Américo René Giannetti aprovou a mudança do nome do bairro Vila Bela Vista para o bairro Padre Eustáquio. Na década de 90, um processo para beatificação e santificação do padre foi lançado ao Vaticano que, em 2003, aceitou o pedido de beatificação devido à cura realizada por Eustáquio a um colega padre que estava com câncer na garganta. Atualmente, o bairro conta com mais de 30 mil moradores orgulhosos da memória do famoso padre benemérito.

 

 

REFERÊNCIAS

ABALEN, Isabela. Bairro Padre Eustáquio, em BH, completa 72 anos, e moradores cantam os parabéns: Evento conta com apresentações musicais e festa na rua; bairro é marcado pela fé no beato Padre Eustáquio. O Tempo. Belo Horizonte. 30 de abril de 2023. Disponível em: https://www.otempo.com.br/cidades/bairro-padre-eustaquio-em-bh-completa-72-anos-e-moradores-cantam-os-parabens-1.2860164 Acesso em: 02 out 2024.

ANDRADE, José Vicente de‏. Padre Eustáquio. Belo Horizonte: BC Edições, 1990. 152 p

 

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