Em negro
teceram-me a pele.
Enormes correntes
amarram-me ao tronco
de uma nova África.
Carrego comigo
a sombra de longos muros
tentando impedir
que meus pés
cheguem ao final
dos caminhos.
Mas o meu sangue
está cada vez mais forte,
tão forte quanto as imensas pedras
que os meus avós carregam
para edificar os palácios dos reis.
A poesia de Adão Ventura Ferreira Reis é símbolo de resistência negra principalmente ao epistemicídio imposto pela branquitude. O poema acima compõe a antologia poética que estava sendo organizada pelo autor antes de sua morte prematura aos 58 anos. A publicação póstuma consiste em honrar os planos de Adão com poesias dispostas nas categorias “Biografias”, “Servidão & chumbo”, “Raízes” e “Costura de nuvens”.
Adão Ventura nasceu em Santo Antônio do Itambé, à época distrito do Serro, no ano de 1946 e lutou bastante para ir para Belo Horizonte onde se formou em Direito pela UFMG. Sendo contemporâneo de Murilo Rubião e outros grandes autores da época, ele já publicava para o Suplemento Literário de Minas Gerais. Em 1973, Ventura foi convidado pela Universidade do Novo México para lecionar Literatura Brasileira nos Estados Unidos e na década de 1990 foi presidente da Fundação Palmares, residindo então em Brasília.
As publicações de Adão Ventura foram reconhecidas e uma de suas poesias “Negro Forro” foi dada como um dos melhores poemas do século XX. Ao longo de sua vida, Ventura escreveu “Abrir-se de um abutre ou mesmo depois de deduzir dele o azul (1970); “As musculaturas do arco do triunfo” (1976); “Jequitinhonha” (1980); “A cor da pele” (1980); “Pó-de-mico de macaco de circo” (1985); “Texturaafro” (1992); e “Litanias de cão” (2002).
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REFERÊNCIAS
VENTURA, Adão. Costura de nuvens: antologia poética. Sabará (MG): Dubolsinho, 2006. 72 p.
______. Texturaafro. Belo Horizonte: Lê, 1992. 36 p.
DUARTE, Constância Lima. (Org.). Adão Ventura. In: Dicionário biobibliográfico de escritores mineiros. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 374 p.