Efemérides de João Dornas Filho

“De temperamento extrovertido, João Dornas Filho era amigo de toda a gente, boêmio a seu modo, grande trabalhador e pesquisador, aberto a todas as manifestações da beleza e da sensibilidade. Defendia com força e coragem suas ideias, indo à polêmica, se necessário. Um grande exemplo de responsabilidade e autenticidade intelectual (Suplemento Literário, 1977 apud Duarte, 2010. p.197)”

Assim é descrito o historiador autodidata João Dornas Filho; figura marcante para a trajetória intelectual de Itaúna e nascido em 07 de agosto de 1902, foi também biógrafo, ensaísta, contista e romancista. Filho de João Dornas dos Santos, um republicano importante para a cena política da cidade itaunense, e de Maria Eugênia Vianna Donas, o escritor mudou-se para Belo Horizonte na década de 1920 e trabalhou em diversos jornais como o “ZumZum”, por exemplo. 

Durante sua estadia em Belo Horizonte, João Dornas Filho teve contato com vários expoentes da cena cultural mineira como Di Cavalcanti, que lhe desenhou em pastel e também Mário de Andrade e, junto com outros grandes nomes, contribuiu significativamente para o movimento modernista na capital ao editar o famoso “Leite Crioulo”, um jornal alternativo que circulou na imprensa modernista tanto em Minas, como em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

Em “Efemérides Itaunenses”, o autor faz extraordinário panorama histórico relacionado à Itaúna, trazendo fatos relevantes desde acontecimentos políticos como a promulgação da Lei municipal que autorizou o estabelecimento da rede telefônica ligando os distritos de Conquista, Itatiaiuçu e Serra Azul em 1920; passando por nascimentos e falecimentos de personagens itaunenses ilustres; até inauguração de algumas instituições fundamentais para o apoio social como a “Fundação São Vicente de Paulo”, fundada em 26 de junho de 1949, destinada a “construir e manter um asilo para crianças”. Como fez em alguns verbetes, João Dornas também adicionou uma nota de jornal ao tópico relacionado à criação da Fundação São Vicente de Paulo, demonstrando sua preocupação em manipular as fontes históricas com acurácia. 

Sua primeira obra publicada foi “Itaúna: contribuição para a história do município” (1936). Mais tarde, escreveu os seguintes trabalhos: “Silva Jardim” (1936); “Os Andradas na história do Brasil” (1937); “A escravidão no Brasil” (1939); “Bagana apagada” (1940); “A influência social do negro brasileiro” (1943); “Eça e Camilo” (1945); “Júlio Ribeiro” (1945); “Antônio Torres” (1948); “Figuras da província” (1949); e “Os ciganos em Minas Gerais” (1949). Sua participação na cena literária lhe fez conquistar a cadeira número 12 da Academia Mineira de Letras e lá, ele insistiu para que o regulamento fosse mudado para que as mulheres pudessem ser eleitas. Infelizmente ele não conseguiu, mas seu caráter, inteligência e excentricidade serão sempre marcantes. 

 

REFERÊNCIAS 

DUARTE, Constância Lima. (Org.). João Dornas Filho. In: Dicionário biobibliográfico de escritores mineiros. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 374 p.

DORNAS FILHO, João. Efemérides itaunenses. Belo Horizonte: Joao Calazans, 1951. 283 p. il. p&b ; 21 cm. (Vila Riza ; 3).

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