A escrita “marginal” de Amelina Chaves

“Caros leitores, neste livro vocês não encontrarão nada de extraordinário, nem erudito. Ele foi feito apenas com o amor infinito que sempre dediquei à escrita. Para mim ele é belo e importante como a própria vida. Espero que leiam com o mesmo amor com que escrevi. Só assim poderei gritar em altos brados toda a arte que me sufoca e me obriga a ficar noites após noites, escrevendo até o amanhecer. Ele não tem nenhuma pretensão, é singelo como o meu mundo.” 

Assim começa a apresentação de Amelina Chaves em seu livro “Diário de um marginal”. Publicado em 1979, o livro reúne uma série de contos acerca da “marginalidade”, ou melhor, de tudo e todos que estão, de algum modo, à margem de algo. Ela mesmo aponta sua própria marginalidade em escrever sem ser uma grande escritora e sem maiores pretensões.

Amelina Chaves nasceu no distrito de Francisco Sá na década de 1930 e foi professora, costureira e escritora. Durante seus 92 anos de vida, escreveu cerca de 36 livros, entre romances, livros infantis, contos, e ainda literatura erótica. Além de sempre demonstrar grande anseio e alegria em escrever, Amelina aborda temas complexos como a maternidade, a vida e a morte. Em “Diário de um Marginal”, por exemplo, Chaves traz treze contos curtos que saíram de si como apelo às autoridades e à humanidade que se esqueceram daqueles e daquelas que vivem à margem. 

O conto que deu nome ao livro acompanha a história de um homem apelidado de “Vovô” pelo filho de sua vizinha, Maria, que havia ido para uma favela em São Paulo após ser expulsa da casa de seu rico patrão. O menino, Paulo, sempre cuidava do Vovô e recebia ordens diretas para ficar em casa e não abrir a porta sob nenhuma circunstância. Um dia, Paulo acaba voltando para casa debaixo dos braços violentos de policiais que o acusaram de tentativa de roubo. O Vovô o defende e, igualmente, apanha fortemente. O que o velho não esperava era que Paulo estava disposto a trabalhar e, eventualmente, achar o pai e matá-lo, vingando, assim, a vida precária de sua mãe. Depois de Paulo fugir de casa, o Vovô sai a sua procura mas só recebe notícias através das páginas policiais do jornal que primeiro relatam a prisão do “jovem deliquente” e, mais tarde, o assassinato do pai do menino. O homem idoso, na esperança de acolher o garoto e tentar tirá-lo daquela vida infeliz, tenta ir atrás dele, mas seu corpo padece antes de chegar no seu antigo barraco, não lhe dando tempo de saber que o menino, em confronto com a polícia, acabou morrendo. 

Amelina Chaves viveu em Montes Claros e assumiu cadeiras em diversas instituições como a Academia Montesclarense de Letras; a Academia Feminina de Letras de Montes Claros; a Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco; entre outros. Além disso, ela ainda é doutora honoris causa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Era uma grande escritora e uma mulher surpreendente. Em seu discurso, ela afirmava que montou “no mesmo cavalo do escritor Guimarães Rosa e, pela escrita, desbravou todo o sertão, onde fiz minha faculdade e me tornei doutora no sertão”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAVES, Amelina. Diário de um marginal. Belo Horizonte: Comunicação, 1979. 117 p. 

COTRIM, Dário. Vitrine Literária: Amelina Chaves. [S.l.: s.n.], 2023. Disponível em: https://onorte.net/opiniao/colunistas/vitrineliteraria/amelina-chaves-1.966228. Acesso em: 04 jun 2024. 

LIBRELON, Andrey. “Minha faculdade é o sertão”, diz escritora Amelina Chaves ao receber título de Doutora Honoris Causa da Unimontes. Montes Claros: Unimontes, 2019. Disponível em: https://unimontes.br/minha-faculdade-e-o-sertao-diz-escritora-amelina-chaves-ao-receber-titulo-de-doutora-honoris-causa-da-unimontes/ Acesso em: 04 jun 2024.

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