Reminiscências: Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira

Romance de Bárbara Eleodora

Na década de 1780, diante de uma série de insatisfações para com o governo imperial português, uma das principais capitanias no Brasil apresentou uma movimentação política com o intuito de conquistar autonomia do domínio colonial. A liberdade, lema estampado na bandeira de Minas Gerais, representou o ideal buscado por aqueles que vieram a ser chamados de inconfidentes. A conjuração, deflagrada em 1789, teve como personagem mártir, e bode expiatório, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, morto em 21 de abril de 1792. O seu corpo, desmembrado e colocado ao longo da estrada real entre o Rio de Janeiro e Ouro Preto, serviu de exemplo às mentes que poderiam, no futuro, intentar contra Portugal. Mas, conhece-se bastante acerca dos atores homens e, como se pode imaginar, ignora-se e lembra-se de esquecer a participação de mulheres e outras minorias cujo poder não é páreo para o poder político que escreve uma suposta “História Oficial”. Uma dessas personagens carrega o nome de Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira. Embora conhecida pela historiografia e pela literatura, Bárbara chegou a ser tanto a “Heroína da Inconfidência” quanto borrada e ofuscada.

Bárbara Heliodora (ou Eleodora) nasceu em 3 de dezembro de 1759 e se tornou conhecida através do poema “Bárbara Bela” escrito por seu marido, o poeta e coronel Alvarenga Peixoto. A mulher é descrita nas fontes dos Autos da Devassa como uma mulher forte e que lutou a todo tempo para assegurar os bens de sua família e a favor da inconfidência, tendo inclusive persuadido seu marido a não entregar os companheiros inconfidentes. Segundo Liana Maria Reis (1989), Bárbara Heliodora não apenas conhecia os planos inconfidentes como igualmente almejava uma posição de destaque social no caso de sucesso da insurreição. Há quem mencione Bárbara como uma flor, como fez Nívia Nohmi em “História de uma flor: Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira”, reforçando estereótipos femininos tratando sempre da “Heroína” como uma mulher de bons dotes e prendada. Há, acima de tudo, aqueles que imputam à vida de Bárbara, a surpresa de sua personalidade política e defesa de ideais vistos como masculinos. Contudo, ela aparece, na literatura, à sombra do primeiro poema que lhe deu fama como a bela Bárbara.

Mas será que Bárbara era apenas bela e esposa desse magistrado? É então que a imagem de Bárbara se vê borrada na História. Reconhecida como mulher de boa educação e esposa do grande Coronel Alvarenga Peixoto, ou até mesmo como Heroína da Inconfidência Mineira, ela foi, também, uma grande poeta árcade brasileira. Heliodora escreveu alguns poemas como “ Conselhos a meus filhos” e “À Maria Ifigênia” com a temática direcionada à maternidade. Entretanto, em meados do século XIX, Varnhagen atribui a autoria de “O sonho” à Bárbara, dizendo ser difícil acreditar que tal obra fosse de Alvarenga Peixoto. No poema, Bárbara manifesta uma tendência notada em outras escritas literárias do século XVIII: o arcadismo com aproximações ao indigenismo. Centralizando a figura do indígena, Bárbara escreve:

“Oh que sonho! Oh! que sonho eu tive n’esta,

Feliz, ditosa e socegada sésta!

Eu vi o Pão de Assucar levantar-se

E no meio das ondas transformar-se

Na figura de um indio o mais gentil,

Representando só todo o Brazil.”

Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira: mulher, esposa, mãe, escritora, participante ativa da Inconfidência Mineira. Essa é a lembrança complexa, com características ulteriores às de uma simples dona de casa, que deve ser sempre atribuída à Bárbara Heliodora, uma mulher que, acima de tudo, lutou pela liberdade!

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MAGALHÃES, Kamila Santana. Resistência e memória: reconstrução da imagem de Bárbara Heliodora. 2021. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Letras Português) – Universidade de Brasília, Brasília, 2021.

NASCIMENTO DE SÁ, C. Inconfidência Mineira, fontes e personagens para novas abordagens. In: História Unisinos, [s. l.], v. 27, n. 1, p. 222–224, 2023. Disponível em:

https://research.ebsco.com/linkprocessor/plink?id=24c2ee58-609f-33b9-afd2-8b597ce030fc. Acesso em: 6 mai 2024.

NOHMI, Nívia. História de uma flor: Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira. Belo Horizonte: Armazem de Ideias ltda, 2004. 64 p

REIS, Liana Maria. A mulher na Inconfidência: (Minas Gerais – 1789). In: Revista do Departamento de História, 9.Belo Horizonte:  PUC-MG, 1989. p. 86-95. Disponível em: https://static1.squarespace.com/static/561937b1e4b0ae8c3b97a702/t/572772017da24f738c4b79ee/1462202882322/8_Reis%2C+Liana+Maria.pdf  Acesso em: 06 mai 2024.

VILHENA, Cely. Romance de Bárbara Eleodora . Belo Horizonte: Emil, 1999. 31 p.

 

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