Ao Aires da Mata Machado, com a afirmativa da minha grande admiração pelas suas admiráveis virtudes de espírito

Essa foi a dedicatória deixada por Heli Menegale em seu livro “A antiga melodia”, publicado em 1935, cujo exemplar pertenceu ao filólogo, historiador e antropólogo Aires da Mata Machado Filho. Essas conexões literárias de imenso valor cultural e histórico apontam para a importância das marcas de leitura encontradas nos livros que lhes enriquecem com historicidade. O autor nasceu em Juiz de Fora, em janeiro de 1903 foi um grande poeta cujas obras eram carregadas de tom bucólico que apenas abrilhantou sua escrita. Além de poeta, foi também jornalista e servidor do Ministério da Educação e Cultura. Em “A antiga melodia”, Menegale apresenta diversos poemas que abordam variados temas além de uma seção dedicada às borboletas. 

Faltando poucos dias para o Natal, é comum que busquemos por literaturas que nos aproximem da célebre “magia do natal” que, às vezes, não chega com tanta felicidade. Contudo, a poesia de Menegale consegue escapar a essa máxima e nos leva para um lugar inesperado em que nos pegamos imaginando uma casa pacata, o clima ameno, uma família em volta da mesa, muita conversa e risadas, a avó, com idade para ter vistos todos os presentes nascerem, guiar uma oração simples mas cheia de amor, lembrando o que ela chama de “verdadeiro significado do natal e não essa data que só fazem para vender”. E de repente, ela pede para aquela filha, apaixonada por letras, imersa no mundo das palavras, para ler um poema que ela goste sobre o natal. Então, a filha, tímida mas orgulhosa pela possibilidade de mostrar um pouco de seus gostos, abre o livro de Heli Menegale e recita:

Estrela do Natal

 

Foi numa noite de Natal como esta.

O pinheiro… os presépios… a ciranda

da criançada que cantava em festa

e a luz das velas, colorida e branda…

 

Vi-a cantando e cirandando lesta,

loura e da graça de uma aldeã da Holanda,

cabelos de ouro voando-lhe na testa

e um lindo laço cor-de-rosa à banda…

 

Vi-a e bastou que a visse, bastou vê-la,

para eu hoje a trazer sempre na mente,

a minha doce e fulgurante estrela.

 

E ela, como os reis magos da Escritura, 

guia os meus passos vagarosamente

para a Belém do Sonho e da Ventura!

 

E então, já encontrou o amor do natal hoje?

 

 

REFERÊNCIAS

MENEGALE, Heli. A antiga melodia. Belo Horizonte: Os Amigos do Livro, 1935. 110 p.

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