Serões de Arthur Lobo

Então é natal, o que você fez? 

Essa pergunta costuma assombrar toda viva alma ainda no início de dezembro e parece nos perseguir até o fim do ano em que nos forçamos a criar algumas metas, reciclando metas antigas, adaptando à realidade metas impossíveis demais para se realizar em menos de um mês. Vem o Natal e não, não tem frio e muito menos neve. No Brasil temos muito calor, chuvas, churrasco, vinagrete e salpicão! O ano termina e começa outra vez, e de novo temos mais um turbilhão de expectativas que talvez nem se cumpram. A ilusão de “viver o presente” nos leva a caminhos inimagináveis, mas é Janeiro e ainda estamos muito cansados para fazer alguma coisa. Então vamos ler um livro, sim, vai dar certo. Esse aqui… “Serões e lazeres” do Arthur Lobo pode ser bem interessante. 

“Serões e lazeres” foi publicado em 1923 e é composto por contos e poesias. É curioso que ele inicie o livro com o conto “Janeiro” em que ele reflete sobre suas memórias de infância relacionadas a esse sentimento que nos toma no ano novo. Arthur Lobo conta sobre como o mês faz as expectativas renascerem e as ilusões crescerem, mas em dado momento, ele narra sobre o presépio famoso em Sabará:

“Armava-se numa sala da frente, todos os annos, invariavelmente, tomando toda a dimensão do aposento, no sentido da largura. Era colossal, afigurava-se um theatro de marionettes, tão enfeitado e galhardo como um tetéa. Representava a gruta da tradição, com um estabulo ao fundo. O tecto figurava um céu cheio de espheras de anil e branco – obra asseada que um pedreiro do logar se esquecera de assignar; diversas estrellas de cartão dourado pontilhavam o firmamento” (Lobo, 1923, p. 9).

A partir dessa lembrança, Arthur Lobo revela como ele prefere pensar mais nesses presépios em que ele pode figurar até diálogos entre o boi, a vaca e o burro, presentes no nascimento de Jesus, que ele viu ainda na infância do que de fato remontar essas encanações já mais velho, tomado pelas ilusões e destemperanças que assolam a “adultice”. 

No restante do livro, o tom melancólico ganha novas formas e em vários poemas ele derrama sua admiração por mulheres que marcaram sua vida como sua própria mãe, por exemplo. 

Arthur Lobo nasceu em 1869, na cidade de Coração de Jesus, que na época pertencia à Montes Claros. Serões e Lazeres foi uma obra póstuma adaptada por professores do Ginásio Mineiro e da escola Normal Modelo de Bello Horizonte e pode ser consultada remotamente. Envie um e-mail para contato@icam.org.br e receba mais informações. 

 

REFERÊNCIAS

FANGUEIRO, Maria do Sameiro. Arthur Lobo. Periódicos e Literatura. BN Digital, [S.l. s.n.]. Disponível em: https://bndigital.bn.gov.br/dossies/periodicos-literatura/personagens-periodicos-literatura/arthur-lobo/ Acesso em 18 dez 2024.

LOBO, Arthur. Serões e lazeres: (prosa e verso). Bello Horizonte: Imprensa Official, 1923. 121 p.

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