Você já parou para pensar sobre qual seria “a melhor profissão que existe”? Em dado momento, alguns diriam que as “três coroas profissionais”, a medicina, o direito e a engenharia, ganhariam esse pódio. Atualmente, com o mercado superlotado e más condições de trabalho, esse cenário mudou e a tecnologia é a área mais bem-paga, embora também venha exigindo cada vez mais atributos específicos e inalcançáveis. Mas… e no século XIX? Qual era a melhor profissão?
O multitalentoso Nelson Coelho de Senna falou sobre isso em “Páginas tímidas”, um livro de contos, publicado em 1896. Senna foi uma figura muito importante para a política, imprensa e literatura no final do século XIX e início do XX. Tendo nascido no Serro em 1876, ele foi professor universitário, jornalista e parlamentar. Após se afastar da política, em 1929, Senna retornou à carreira de professor e também à vida literária e acadêmica, tendo produzido diversos livros.
Senna não parece seguir nenhuma sequência cronológica ou temática em seus contos de “Páginas tímidas” e, aparentemente, relata suas observações rotineiras nas páginas sem muita timidez. Entre os muitos contos, “O dentista” se destaca pelo sarcasmo do autor impresso no narrador da história que relembra um fato curioso acerca de uma fala do tio que afirmava que quem era dentista tinha a melhor profissão que existe em 1894.
O caso se passa acompanhando Bento Cirurgião, um belo e jovem “curandeiro de boca” que, onde passava, deixava votos de magnitude pelo ótimo trabalho exercido, tratando variados pacientes e trazendo alegria às pessoas que precisavam de um novo sorriso. Em uma cidade, certa vez, havia um velho coronel, fazendeiro de “corpo largo e opulento” que vivia uma tristeza absoluta por ser “banguela”. A condição lhe impedia de comer direito e de, também, beijar a esposa propriamente. Mesmo que a mulher lhe afastasse sempre que possível. Quando o dr. Bento Cirurgião chega à cidade, ele possibilita ao fazendeiro, uma nova vida ao lhe colocar novos dentes. A felicidade foi tamanha que o homem organizou um banquete festivo para agradecer o dentista.
“Conta-se que de muito excesso na opípara refeição, não só engolira o Coronel a dentadura, mas também lhe sobrevieram formidável indigestão, que o levou de pontapés ao outro mundo”. p. 84
Após a morte obtusa do Coronel, Bento Cirurgião acaba lhe ocupando o lugar e se torna o novo marido da esposa, descrita como uma mulher “caridosa” por ter sido companheira do Coronel. Eis aí a razão do tio dizer que essa era a melhor profissão… E para você qual seria? Quer ler mais contos de Nelson Coelho de Senna? Este livro já está disponível para acesso remoto; entre em contato conosco pelo e-mail contato@icam.org.br e receba mais informações!
REFERÊNCIAS
ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Inventário da Coleção Nelson Coelho de Senna. Belo Horizonte: Diretoria de Arquivos Permanentes, 2014.
SENNA, Nelson de. Paginas timidas: contos e escriptos. Ouro Preto (MG): Typ. Silva Cabral, 1896. 170 p.