Uma frase muito conhecida entre os acadêmicos da História diz mais ou menos que “a História é o estudo do homem no tempo” e, geralmente, ela vem acompanhada de relatos sobre a importância dessa Ciência para se “conhecer o passado” para “não repetir os mesmos erros no futuro”. Fatos, fontes, relatos, narrativas; todas especificidades que devem ser consideradas por historiadores e historiadoras a fim de narrar determinada História.
Hoje, 19 de agosto, é a marca do aniversário de um célebre historiador brasileiro do século XIX, Joaquim Nabuco, grande incentivador das políticas abolicionistas. Por sua relevância política, a data foi escolhida para celebrar o “Dia do Historiador”. Desde a segunda metade do século XIX, muita coisa mudou: o ofício do(a) Historiador(a) passou por enormes transformações que vão desde a necessária qualificação acadêmica para exercer a ocupação até a devida regulamentação da profissão ― ocorrida apenas a alguns anos atrás (2020).
Em Minas Gerais, uma infinidade de profissionais da História cumpriram e cumprem diariamente o dever político em estudar “o homem” e sua ação no tempo. As próprias Minas das Gerais receberam diversos olhares historiográficos desde sua origem e um desses nomes é o de Diogo de Vasconcelos, um complexo personagem da Historiografia mineira, isso porque o político, jornalista e historiador não apenas fugia dos padrões de escrita histórica da época mas também por ter sido um precursor das práticas de pesquisa documental em arquivos.
Diogo Luiz de Almeida Pereira de Vasconcellos, nascido em Mariana no ano de 1843, foi responsável por fundar um tipo de tradição memorialística de Minas Gerais, pois, ao fazer suas pesquisas em acervos documentais, sua escrita ocultava as fontes utilizadas para a análise da narrativa. Entretanto, isso não significa que Vasconcelos ficcionava acerca dos fatos mineiros que relatava, muito pelo contrário: ao longo dos anos, outros historiadores interessados em estudar a produção de Vasconcelos, encontraram as fontes utilizadas por ele e atestaram seu rigor científico.
“Diogo de Vasconcelos, defensor de uma ordem civil inspirada numa temporalidade cristã, marcou as narrativas dos historiadores que se seguiram, constituindo uma matriz interpretativa do passado comum dos mineiros. Suas visadas, ainda, continuam estimulando ou sugerindo problemas, mesmo diante de uma constante reescrita das histórias de Minas” (Andrade, Andrade M., 2014, p. 7).
Neste 19 de agosto, desejo a todos os historiadores ― eu inclusa ― a força para renovar nossas práticas de ensino, pesquisa e escrita, refletindo a respeito dos poderes políticos e culturais que nos atravessam para que nossas mãos escrevam Histórias que não revitimizem os subalternos e que responsabilizem, de fato, os algozes perpetradores de tantos malefícios vistos até hoje na história da humanidade.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Francisco Eduardo de; ANDRADE, Mariza Guerra de. Apresentação. In: ROMEIRO, Adriana; SILVEIRA, Marco Antonio. (Orgs.). Diogo de Vasconcelos: o ofício do historiador. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014. p. 7- 14. (Historiografia de Minas Gerais. Universidade ; 3 ).
ROMEIRO, Adriana; SILVEIRA, Marco Antonio. (Orgs.). Diogo de Vasconcelos: o ofício do historiador. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014. 156 p. (Historiografia de Minas Gerais. Universidade ; 3 ).
SILVA, Rodrigo Machado da. O Heródoto mineiro: da tradição monárquica à historiografia republicana. Temporalidades, Revista Discente do Programa de Pós-graduação em História da UFMG, vol. 2, n.º 1, Janeiro/Julho de 2010, p. 56-65.