O retorno de JK

No “Teias Literárias” de hoje vamos conhecer um pouquinho do ex-presidente do Brasil: Juscelino Kubitschek de Oliveira, lembrado eternamente pela idealização de Brasília. 

Na década de 1940, JK estava à frente da prefeitura de Belo Horizonte: construída para ser a nova capital do estado, a cidade era um símbolo da modernidade. Aliada ao planejamento urbano, a modernidade formava o lema carregado por JK até o fim de sua vida em 1976 em um acidente de carro cercado de mistérios. Até 1961, o mineiro de Diamantina ocupou o cargo de Presidente da República e logo depois conquistou o voto para o Senado de Goiás. Após o golpe responsável pela instituição da Ditadura Civil-Militar em 1964, JK passou a ser investigado nos Inquéritos Policiais-Militares (IPMs), que resultou em seu exílio para Lisboa findado, definitivamente, em 1968, mas voltou a ser alvo do governo militar quando a Comissão Geral de Investigações (CGI), em 1968, o acusou de ser corrupto e de ter ligações com comunistas. Ao longo das audiências secretas da CGI, JK teve toda sua vida escrutinada e questionada, desde o seu tempo de prefeitura belo-horizontina. Sua imagem política foi desgastada, seu cargo no senado cassado e seus bens confiscados. Assim, ele buscou retornar à cena política e cultural através das Academias Literárias. Em 1974, ele escreveu a Vivaldi Moreira o seguinte: 

“BH 19.10.74

Ao meu querido Presidente e dileto amigo Vivaldi Moreira ofereço estes discursos que marcaram a primeira investida na direção do desenvolvimento de Minas a você que, agora, realizou uma das minhas velhas aspirações, integrando-me, de novo, na comunhão da cultura mineira, com a minha eleição p/ a Academia, o abraço agradecido e afetuoso do admirador e amigo Juscelino Kubitschek”

Ora, percebam como a acolhida de um amigo de longa data faz com que o regozijo de JK seja transposto em palavras. Essa dedicatória está no livro “Realidades, perspectivas: discursos: quatro anos no govêrno de Minas 1951-1955”, escrito por JK em 1955. Curiosamente, o ex-presidente resgata um livro escrito em um momento, para si, glorioso e o entrega para um companheiro em anos que recebia pouco apoio político em todas as esferas. A ânsia em ser visto novamente como o que foi é manifestada quando ele agradece o amigo por integrar-lhe, “de novo” à cultura mineira, visto que aquele fora o ano em que ganhou a eleição para a Academia Mineira de Letras. 

Um ano mais tarde, o homem que não era um escritor mas que era considerado um homem das letras resolveu concorrer à cadeira número um da Academia Brasileira de Letras. No entanto, os generais detentores do poder governamental viram a candidatura do mineiro como uma possibilidade dele retornar à presidência. A eleição da ABL, em 1975, foi repleta de viradas políticas dos acadêmicos das Letras que, sem explicação, deram seus votos a Bernardo Élis e não a Juscelino. Ainda que os militares tenham perseguido, exilado e impedido a “imortalização”  de JK, ele permanece na memória dos brasileiros como aquele que fez o Brasil avançar, 50 anos em 5. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KNACK, Diego. O caso Juscelino: como a ditadura militar tratou as denúncias de corrupção contra JK. In: História da Ditadura, 2016 [2020]. Disponível em: https://www.historiadaditadura.com.br/post/o-caso-juscelino-como-a-ditadura-militar-tratou-as-den%C3%BAncias-de-corrup%C3%A7%C3%A3o-contra-jk Acesso em: 20 mai 2024. 

KUBITSCHEK, Juscelino. Realidades, perspectivas: discursos : quatro anos no govêrno de Minas 1951-1955. Belo Horizonte: Secretaria da Educação de Minas Gerais, 1955. 461 p. (Cultural ; 5).

RÁDIO CÂMARA. JK: a cassação, o exílio e a morte. In: Câmara dos Deputados, 2006. Disponível em: https://www.camara.leg.br/radio/programas/274176-jk-a-cassacao-o-exilio-e-a-morte-09-51/ Acesso em: 20 mai 2024. 

ROSARIO, Matheus Abreu do. Juscelino Kubitschek: Belo Horizonte (1940-1945). In: História e Democracia: precisamos falar sobre isso. Anais Eletrônicos. Guarulhos: Unifesp, 2018. Disponível em: https://www.encontro2018.sp.anpuh.org/resources/anais/8/1534856420_ARQUIVO_JUSCELINOKUBITSCHEK-TextoAnpuhSp.pdf Acesso em: 20 mai 2024. 

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